quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Atividade física, depressão e ansiedade!

             Um caminho para a recuperação da depressão e a ansiedade é o exercício físico, além de  outros tratamentos, que ajudam a melhorar o humor, combate os sentimentos de tristeza, e preparar o cérebro para lidar melhor com o estresse.
Os profissionais de saúde relatam que o exercício regular é uma estrela de ouro para ajudar a prevenir doenças. Outra vantagem é que diferentes tipos de atividade física, a partir de exercícios aeróbicos, pode ajudar a diminuir os sintomas depressivos. Um estudo descobriu que caminhadas e corridas, algumas vezes por semana, ajuda a reduzir os sintomas da depressão. Mas não é somente exercícios aeróbicos, os pesquisadores descobriram que idosos deprimidos que faziam musculação semanalmente melhoraram sua qualidade de vida e o sono.
            Além de aumentar os níveis de endorfina, os cientistas sugerem que a atividade física pode funcionar como alguns medicamentos antidepressivos que alteram a química do cérebro. Uma pesquisa recente (embora em ratos) constatou que aqueles que correram voluntariamente tiveram maiores quantidades de células do cérebro que produzem o neurotransmissor GABA (associado com sentimentos de calma) do que aqueles que apenas se sentou em suas gaiolas. Quando todos os roedores foram colocados na água gelada, o cérebro dos corredores lançou mais GABA, o que significa que provavelmente sentiram menos ansiedade na situação estressante.
           
Além disso, ficar em forma também pode nos ajudar a ganhar confiança e distrair-nos das preocupações. E a pesquisa sugere que este efeito não é apenas temporário. Em pacientes diagnosticados com depressão clínica, o exercício pode ajudar a diminuir os sintomas. Alguns psicólogos defendem ainda que os profissionais de saúde mental prescrevam atividade física para o tratamento da ansiedade e depressão da mesma forma que recomendam medicação.
Um terapeuta pode ajudar a criar um plano de tratamento individual para a depressão que pode incluir algum exercício. Junto com comer bem, dormir o suficiente, e passar tempo com a família e amigos. Obter um movimento de 30 minutos por dia, três a cinco dias por semana, pode ajudar muitas pessoas.

sábado, 17 de dezembro de 2016

O MÚSCULO TRANSVERSO ABDOMINAL E SUA FUNÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO DA COLUNA LOMBAR



OBJETIVO: conduzir uma revisão de literatura observando evidências sobre a relação do músculo Transverso do Abdômen e a estabilização da coluna lombar.

MÉTODO: uma busca em bancos de dados bibliográficos foi realizada utilizando as palavras-chave: músculo Transverso do Abdome, estabilização da coluna lombar, músculos abdominais. Por meio da pesquisa em livros e em bancos de dados, como Scielo, Medlne, Lilacs e Pubmed, foram selecionados resumos de estudos que preenchiam os critérios iniciais da seleção, sendo solicitadas cópias dos artigos originais.

RESULTADO: o Transverso do abdome tem um importante papel, na estabilização da coluna lombar. Ele possui uma relação com a lombalgia. E, para executar suas funções de forma mais efetiva, seu treinamento deve ser específico.

CONCLUSÃO: O estudo esclareceu e reforçou a função de estabilizador do músculo transverso. Contudo, ainda necessita realizar estudos mais detalhados e com uma maior representação da amostra, para haver uma maior compreensão deste assunto.

INTRODUÇÃO A estabilidade da cintura pélvica e da coluna lombar tem uma grande importância no equilíbrio corporal. A pelve transmite as forças do peso da cabeça, do tronco e das extremidades superiores e as forças ascendentes dos membros inferiores. Enquanto a coluna lombar é a principal região do corpo responsável pela sustentação das cargas (1). Além disso, a fáscia tóraco-lombar e suas potentes inserções musculares também possuem uma função relevante na estabilização da região lombopélvica (2, 3). Os músculos do tronco são divididos em dois grupos: os músculos profundos, que são os oblíquos internos, o transverso abdominal e os multífidos; e os músculos superficiais, que são os oblíquos externos, os eretores espinhais e o reto abdominal. Todas essas musculaturas, de uma forma geral, contribuem para o suporte da coluna vertebral e da pelve. Porém, especificamente, os músculos abdominais possuem um importante papel na estabilização da coluna lombar e da cintura pélvica (4, 5, 6). Segundo Norris (7), o músculo reto abdominal é o principal flexor do tronco; os músculos oblíquos internos e externos, além de participarem da flexão, têm funções, de acordo com a orientação de suas fibras, de rotação, inclinação lateral e estabilidade durante o exercício abdominal (8, 9). O músculo transverso do abdome é circunferencial, localizado profundamente e possui inserções na fáscia tóraco-lombar, na bainha do reto do abdome, no diafragma, na crista ilíaca e nas seis superfícies costais inferiores (10). Por conta das suas características anatômicas, como a distribuição de seus tipos de fibras, sua relação com os sistemas fasciais, sua localização profunda e sua possível atividade contra as forças gravitacionais durante a postura estática e a marcha, possui uma pequena participação nos movimentos, sendo um músculo preferencialmente estabilizador da coluna lombar (11). Como os músculos abdominais possuem relevância na estabilização da região lombopélvica, a diminuição da atividade destes músculos faz com que a flexão do quadril seja realizada sem a estabilidade necessária, permitindo que o músculo psoas exerça tração sobre o aspecto anterior das vértebras lombares, levando a uma anteversão pélvica e um aumento da lordose lombar (12). Com o passar do tempo, os tecidos podem se adaptar a essa nova postura, que frequentemente está associada a uma série de disfunções, entre elas: a espondilolistese e as degenerações discais e facetárias (13). Uma das queixas mais comuns da população é a lombalgia, segundo a Organização Mundial da Saúde cerca de 80% dos adultos terão pelo menos uma crise de dor lombar durante a sua vida, e 90% destes apresentarão mais de um episódio. A lombalgia é a causa mais comum de absenteísmo no trabalho nos países desenvolvidos, causando além de um problema médico, um déficit econômico (14). Em indivíduos que não possuem lombalgia, conforme Hodges e Richardson, o transverso do abdome é ativado antes do início dos movimentos dos membros. Por ser esse músculo uma estrutura essencial para estabilizar a coluna lombar, a teoria atual preconiza que ao realizar exercícios para a parede abdominal seja enfatizado o recrutamento específico do transverso do abdome, em vez de fortalecimento e endurance gerais (12). Portanto, a identificação do desequilíbrio da musculatura da parede abdominal pode permitir sua correção, podendo evitar ou minimizar estas modificações posturais. O presente trabalho teve por objetivo abordar sobre o músculo transverso do abdome e a sua função de estabilização da coluna lombar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO A estabilização vertebral A estabilidade vertebral depende da integração entre 3 elementos: o sistema passivo que consiste dos corpos vertebrais, articulações facetarias, cápsulas articulares, ligamentos espinhais, discos intervertebrais e participam da estabilização por meio das propriedades viscoelásticas; o sistema ativo, o qual é constituído dos músculos espinhais e seus tendões; e o controle neural que recebe informações dos sistemas passivo e ativo, por meio dos receptores, e tem o papel de captar as alterações de equilíbrio e determinar os ajustes específicos, por meio da musculatura da coluna, restaurando a estabilidade (15). Quando um desses sistemas falha os outros dois se reorganizam para dar continuidade a homeostase. Porém, muitas vezes, essa reorganização é inadequada sobrecarregando os subsistemas, promovendo uma cronicidade da disfunção-instabilidade vertebral (15, 16). O músculo transverso abdominal O transverso abdominal foi considerado um importante estabilizador da coluna lombar a partir do conhecimento da sua relação com a fáscia tóraco-lombar e a pressão intra-abdominal, e da participação destas na estabilidade lombar (17). A partir desse momento, outros trabalhos foram realizados, relacionando os músculos que possuem suas inserções na coluna vertebral como geradores de estabilidade desta estrutura. Acreditando-se que o transverso do abdome possui um papel de destaque em relação aos outros músculos abdominais (15, 18, 19). Pesquisas dos músculos abdominais profundos, através de eletromiografia, mostraram que o transverso abdominal é o principal músculo gerador da pressão intra-abdominal (12, 20). O aumento da pressão no interior do abdome e na tensão da fáscia tóraco-lombar ocorre com a contração do músculo transverso, que resulta em uma diminuição da circunferência abdominal, devido à orientação horizontal das suas fibras (21, 22). Por meio deste mecanismo, há uma redução na compressão axial e nas forças de cisalhamento e uma transmissão destas em uma área maior, promovendo uma maior estabilidade à coluna durante o levantamento de cargas elevadas (22). Vários estudiosos demonstraram que os músculos que possuem maior função estabilizadora são os multífidos, transverso abdominal e oblíquo interno agindo em co-contração, principalmente na antecipação de cargas aplicadas (12, 23, 24). Por meio de um estudo eletromiográfico, Hodges e Richardson (25), constataram que o músculo transverso abdominal é o primeiro músculo a ser ativado durante movimentos dos membros, concluindo que este músculo é fundamental para a estabilização segmentar. Portanto, ao antecipar-se ao movimento produzido pela ação do agonista, o transverso abdominal atuaria promovendo uma rigidez necessária à coluna lombar, evitando qualquer instabilidade geradora de dor lombar (16, 20, 26). Em indivíduos sãos, o transverso do abdome, para proteger a coluna, contrai-se antes dos movimentos das extremidades. Nos lombálgicos esta contração falha antes dos movimentos, demonstrando uma alteração na coordenação desse músculo (27). O atraso no início da contração do transverso abdominal indica um déficit do controle motor e resulta em uma estabilização muscular ineficiente da coluna (28).
Existem evidências que comprovam que a musculatura profunda do abdome, especialmente o transverso abdominal e multífido, é afetada na presença de dor lombar e instabilidade segmentar (28). Com a disfunção local ocorre uma substituição compensatória de músculos globais, que pode ser explicada pela tentativa do sistema neural em manter a estabilidade por meio da solicitação dos músculos globais (29). Treinamento específico Conforme Hodges (20), o transverso abdominal deve ser treinado separadamente dos outros músculos pelo fato dele ser o principal músculo afetado na lombalgia, perdendo sua função tônica. Ainda, segundo Richardson (30), a contração do transverso abdominal, por meio de exercício específico, reduz significantemente a frouxidão da articulação sacroilíaca. Este achado, segundo o autor, confirma que o uso de contrações independentes deste músculo é útil para a lombalgia. Corroborando com Hides (31), que por meio da ressonância Magnética, demonstrou que durante a ação de abaixamento do abdome, o transverso abdominal bilateralmente forma uma banda músculofascial que pressiona o abdome, como um espartilho, e desenvolve a estabilização da região lombopélvica. Pesquisas realizadas na Austrália mostraram que pacientes com dor lombar, embora tenham sido tratados por várias terapias, possuem algo em comum: os multífidus e transverso do abdome estão fracos. Eles também tem excesso de atividade dos músculos globais, como eretor da espinha e abdominais superficiais (32). Antigamente, os programas de exercícios focavam os músculos globais mobilizadores como os exercícios abdominais ou de extensão da coluna. Porém, sem os estabilizadores fortes, estes não reduziriam as dores e ainda seriam lesivos, já que normalmente comprimem excessivamente as articulações. As pesquisas atuais demonstram que é necessário ativar os estabilizadores primeiro, por meio de exercícios sutis, precisos e específicos, o que impede um processo lesivo da coluna, assim como a redução da reincidência das disfunções espinhais (27, 32, 33). Em 1995, Richardson já estabelecia a reeducação do transverso do abdome em pacientes com dor lombar, com bons resultados (11). O´Sullivan, em 1997, realizou um estudo comparando pacientes com lombalgia que utilizavam exercícios específicos baseados no trabalho de Richardson e outros com tratamentos diversos e exercícios gerais supervisionados (27). Obtendo melhores resultados no primeiro, apontando efetividade na reeducação do transverso abdominal. O mesmo autor, em 2000, utilizou os mesmos princípios de treinamento, comparando padrões de instabilidade lombar, e obteve resultados excelentes (29). Os efeitos a longo prazo (1 a 3 anos) dos exercícios específicos, comparados com pacientes que utilizavam fármacos, foram analisados por Hodges. Uma menor recorrência de dor lombar foi observada no primeiro grupo (de 30 a 35%), em relação ao segundo (de 75 a 84%), comprovando a eficácia dos exercícios específicos para essa enfermidade (20).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabe-se que o músculo transverso possui outras funções em relação à respiração e em associação com os músculos pélvicos, porém não foi abordado por não ser objetivo da pesquisa. O estudo esclareceu e reforçou a função do músculo transverso abdominal de estabilizador lombar, a sua relação com a lombalgia e a importância de um treinamento mais específico para melhor executar a sua função. Embora, tenham sido encontrados artigos bastante relevantes neste assunto, faz-se necessária a realização de pesquisas de caso-controle ou de coorte com amostras estatisticamente significantes, para melhor entendimento das funções do músculo transverso abdominal e com isso a utilização de exercícios específicos e efetivos no tratamento da lombalgia que acomete uma grande parcela da população.

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Atividade física e sáude pública





Atividade física e sáude pública

Com a introdução de novas tecnologias o homem moderno transformou-se. Se em um passado não tão distante ele era um indivíduo do campo, sendo fisicamente ativo, com as ondas migratórias para as grandes cidades passou a adotar um estilo de vida urbano, com um comportamento tipicamente sedentário.

Estudos epidemiológicos1,2 realizados em países do Hemisfério Norte explicitam uma realidade que parece não ser diferente em nosso meio. Os dados encontrados demonstraram existir maior prevalência na prática de atividades físicas entre as camadas mais privilegiadas da população. Estudos subseqüentes3,4 sugerem que a freqüência na prática de exercícios tenha aumentado nos últimos 20 anos, embora tal aumento não tenha sido verificado de modo uniforme em todos os estratos sociais da população, permanecendo a assertiva de que os menos abastados exercitam-se menos.

No final da década de 70, Duncan et al.5 realizaram um estudo observacional representativo da população adulta de Porto Alegre. Os autores constataram que, na faixa etária entre 20 e 39 anos, apenas 40% dos homens e 10% das mulheres se exercitavam regularmente. Cabe salientar que, com o aumento na idade, os percentuais de indivíduos fisicamente ativos reduziam-se significativamente. Tal achado reflete uma realidade perigosa do ponto de vista de saúde pública, uma vez que estudos clínicos e epidemiológicos demonstram existir evidências relacionando o sedentarismo com diferentes doenças que afetam o homem contemporâneo1-4.

Por outro lado, a grande maioria dos estudos realizados com o objetivo de determinar o papel da atividade física em relação à saúde demonstrou que a prática de exercícios regulares em bases crônicas aponta para um benefício real. Genericamente, um efeito protetor contra doenças crônico-degenerativas, especialmente as de origem cardiovascular, pode ser esperado.

PREVENÇÃO

Existem evidências de que ao exercitar-se o indivíduo assume uma postura positiva em relação a outros fatores de risco, procurando assumir um hábito de vida mais saudável. Logo, ao engajar-se em um programa de atividade física, exercitando-se de forma regular, o praticante passa a dispor de um aliado. Isso pode ser mencionado, uma vez que existe uma relação inversa entre a prática de exercícios físicos e diferentes hábitos não recomendáveis em se tratando de saúde. O exercício pode ter um impacto sobre o tabagismo, sobre a ingesta calórica inadequada, sobre o estresse exagerado, além de poder atuar sobre a dependência de álcool e de drogas psicoativas.

Estudos prospectivos3,6 sugerem que exista uma relação inversa entre o nível de atividade física e os índices de morbimortalidade cardiovascular em pessoas assintomáticas. Em estudo clássico realizado no final da década de 70, Paffenbarger et al.6 observaram um grupo de ex-alunos da Universidade de Harvard, tendo acompanhado esses sujeitos por um período de tempo que variou de seis a dez anos. Os autores constataram que aqueles indivíduos que apresentavam menor índice de atividade física laboral ou nas horas de lazer tinham maior risco para uma primeira manifestação isquêmica. Mais recentemente, 10.224 homens e 3.120 mulheres foram seguidos por Blair et al.3. Nesse estudo longitudinal que durou cerca de oito anos, os autores puderam observar que os indivíduos com menor capacidade funcional na entrada apresentaram mortalidade subseqüente maior. Portanto, todos esses trabalhos têm o mérito de reforçar a associação entre a atividade física regular e a prevenção de doenças isquêmicas do coração em populações aparentemente sadias. No que diz respeito à prevenção secundária da doença isquêmica do miocárdio, metanálises realizadas no final da década de 807,8 sugerem que os programas de reabilitação cardíaca podem exercer um papel benéfico na redução de eventos, pois parece haver diminuição na mortalidade cardiovascular global, além de ocorrer diminuição importante no risco de morte súbita nessa população de cardiopatas. Entretanto, embora exista uma tendência favorável, a medicina embasada em evidências aguarda novos estudos, em que um grande número de pacientes possa ser arrolado e seguido por um longo período. Somente através de estudos bem delineados, como são os ensaios clínicos randomizados, multicêntricos controlados, os achados oriundos das metanálises supracitadas poderão ser definitivamente incorporados como verdades científicas concretas.

Muitos pesquisadores sugerem que o exercício físico regular seja capaz de ter impacto significativo sobre a prevenção e/ou controle da hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus não insulino-dependente, dislipidemia, obesidade, osteoporose, asma brônquica e outras doenças pulmonares, além de poder diminuir sintomas depressivos e de ansiedade. No entanto, é importante frisar que a prática de exercícios também possui seus riscos. Traumas mecânicos, alterações metabólicas, além de problemas psicológicos, podem advir da atividade física realizada de forma inadequada. O supertreinamento, assim como esforços vigorosos realizados por pessoas não aptas, pode resultar em verdadeiras catástrofes.

A ocorrência de morte súbita relacionada com os esforços também tem sido observada, principalmente em praticantes de exercícios aeróbios de longa duração. Portanto, embora o exercício seja considerado um fator de proteção para a doença arterial coronária, ele não "imuniza" o indivíduo contra tal enfermidade. Logo, cabe salientar que, se a atividade física intensa tem o potencial de aumentar transitoriamente o risco de morte súbita, a atividade física realizada de forma regular compensa esta possibilidade, o que se traduz em redução do risco global para morte súbita9.

RECOMENDAÇÕES GLOBAIS PARA A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS

Na prática, recomenda-se que todo e qualquer programa de exercício inicie com um período maior ou menor de adaptação, já que toda experiência nova requer aclimatação gradual. Um período variável entre uma e quatro semanas costuma ser suficiente. É por demais importante que a escolha do tipo de atividade física a ser desenvolvida seja feito de acordo com o gosto do participante. Dessa forma, ao serem respeitados os princípios da adaptação e da individualidade biológica, a aderência à prática regular e crônica da atividade física passa a ser facilitada. A intensidade recomendada deve variar, no mais das vezes, entre 60 e 85% da freqüência cardíaca máxima prevista para idade (calcula-se FC máxima em batimentos por minuto como sendo 220 menos a idade). Na prática, pode-se utilizar a escala de percepção do esforço de Borg10 ou simplesmente procurar exercitar-se de forma que o indivíduo se sinta algo fatigado, mas não exausto. Para determinados tipos de atividades, como a caminhada ou a corrida, o uso do "teste da conversa" pode servir como bom parâmetro. Exercitar-se em intensidade que permita conversação, mesmo que uma leve dispnéia esteja presente, dá uma idéia subjetiva do grau leve a moderado do esforço.

Até poucos anos atrás preconizava-se que, para fins de promoção de saúde, a atividade física deveria ser obrigatoriamente de caráter contínuo11. Sessões três a cinco vezes por semana, com duração variável entre 20 e 60 minutos, faziam parte da maioria das prescrições de exercício. Hoje em dia recomenda-se que toda criança e todo adulto ocupem 30 minutos ou mais do seu dia em atividades físicas de intensidade moderada. Atividades intermitentes, sejam elas de caráter ocupacional, tarefas do dia-a-dia ou ainda realizadas no lazer, fornecem benefício cardiovascular significativo12. Por exemplo, 15 minutos de atividades aeróbias em um determinado período do dia acrescidos de outros 15 minutos em outro horário ao longo das mesmas 24 horas parecem ser adequados em se tratando de prevenção primária12.

Diferentes estudos11,12 sugerem que as atividades rítmicas aeróbias e/ou antigravitacionais, em que a contração de grandes grupos musculares está presente, são aquelas que trazem os maiores benefícios. Exercícios como caminhada, corrida, ciclismo, natação, hidroginástica, futebol, tênis, voleibol e basquete são exemplos dignos de nota.

ORIENTAÇÕES MÉDICAS PARA PRÁTICA DA ATIVIDADE FÍSICA

Para que os benefícios da prática de exercícios sejam otimizados e os riscos diminuídos, recomenda-se avaliação médica prévia ao início do programa. Para os indivíduos assintomáticos, anamnese cuidadosa e exame físico abrangente costumam ser inicialmente suficientes. Já naquelas pessoas com sinais e/ou sintomas que sugerem possível doença cardíaca, o encaminhamento ao cardiologista, para avaliação mais detalhada, é recomendável. O eletrocardiograma de esforço, a ergoespirometria, o ecocardiograma, entre outros exames, podem fornecer informações importantes na decisão clínica sobre que tipo de programa de exercício deva ser seguido ou se contra-indicações para a prática de exercícios se impõem. Se, porventura, ocorrerem sinais ou sintomas que sugiram doença cardiovascular ou de outro sistema orgânico ao longo do programa de exercícios, aconselha-se a interrupção na atividade física e imediata investigação médica.

As contra-indicações absolutas para prática de atividades físicas do ponto de vista cardiovascular são: estenose aórtica ou pulmonar moderada a grave, a cardiomiopatia hipertrófica com gradiente importante na via de saída do ventrículo esquerdo, incluindo-se aí suas variantes, as arritmias cardíacas avançadas e de mau prognóstico, os bloqueios cardíacos de alto grau não "protegidos" por marcapasso, a insuficiência cardíaca descompensada, a miocardite e a insuficiência coronária instável. São contra-indicações temporárias as infecções agudas, a DPOC, o diabetes mellitus e a hipertensão arterial, quando descompensados.

No que diz respeito ao paciente hipertenso, este pode ter benefício com a prática de exercícios aeróbios (isotônicos). No entanto, até a presente data, não existe um consenso a respeito do impacto da execução de exercícios isométricos nesses pacientes. Logo, a recomendação atual é de que exercícios com tais características não devam ser prescritos para esse subgrupo de pacientes até que surjam evidências mais claras de que seus benefícios suplantem os riscos13,14.

A RESPONSABILIDADE DO MÉDICO NAS INFORMAÇÕES SOBRE ATIVIDADE FÍSICA PARA A POPULAÇÃO

Para que uma política de saúde seja efetiva é fundamental que se criem medidas abrangentes com o intuito de diminuir o impacto negativo dos diferentes fatores de risco sobre a sociedade. Em se tratando de combate ao sedentarismo, a idéia vigente é de que um aumento moderado nos níveis de atividade física dos indivíduos sedentários parece ter repercussão significativa sobre a qualidade da saúde da sociedade como um todo.

Dessa forma, é muito importante que o agente de saúde recomende, encoraje, oriente e sirva como facilitador para que um estilo de vida mais ativo seja adotado. O esclarecimento de crianças e jovens deve ser priorizado, uma vez que a intervenção nesses períodos da vida sedimentam hábitos que serão levados para o futuro. Além disso, é possível que, quando adultos, esses jovens venham a servir como multiplicadores de hábitos adquiridos previamente, atuando direta e/ou indiretamente contra o sedentarismo.

A mensagem de que a prática de exercícios regulares é saudável e benéfica para o corpo e para mente deve ser sistematicamente dirigida para todas as pessoas. Ao organizarem campanhas públicas, as associações e entidades da área da saúde almejam que os índices de atividade física da população atinjam um patamar mínimo e que o exercício físico regular e continuado se estabeleça como uma norma social. Nesse aspecto, os meios de comunicação exercem um papel muito importante na divulgação de tais campanhas, alastrando a informação de que a promoção de saúde através da prevenção pode ser "o melhor remédio".

Logo, para que a prática de atividades físicas em bases regulares possa ser assumida como uma regra, não servindo apenas para privilegiar grupos sociais mais esclarecidos e diferenciados economicamente, devemos criar condições factíveis e práticas para que a globalização do exercício se torne uma realidade preventiva em termos de saúde pública.

A educação física em todas as escolas deve servir como uma fonte fomentadora do hábito, sendo ministrada de forma criativa e motivadora. Cabe salientar que os custos para tal ação não necessitam ser elevados, sendo este aspecto fundamental, uma vez que vivemos em um país onde os recursos são escassos ou não disponíveis com facilidade.

Nas atividades comunitárias, ênfase para práticas orientadas para adultos podem ser dadas. Podemos citar como exemplo o intervalo para o café ou para o cigarro que costuma ocorrer entre um turno e outro de trabalho em diversas empresas de nosso país. Em vez de tomar café ou fumar, o trabalhador poderá ser muito beneficiado ao ser exposto, de forma orientada, a um programa de atividade física em seu local de trabalho.

Por fim, o processo organizado de exposição ao exercício, além de possibilitar a aquisição do gosto pelas atividades que movimentem o corpo, é um potencial redutor de fatores de riscos, sendo um elemento que também pode ter um impacto positivo sobre a mente, sendo, portanto, indicado para todas as pessoas, salvo naquelas situações clínicas especiais em que se prove em contrário.

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sábado, 10 de dezembro de 2016